segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

Água previne dor

Em 19 de maio, é celebrado o Dia Nacional de Combate à Cefaleia. Esse mal, que acomete cerca de 90% da população mundial, conforme a Organização Mundial de Saúde (OMS), está entre as 10 doenças mais incapacitantes e atinge 30 milhões de brasileiros (três mulheres para cada homem). A médica neurologista Célia Roesler, diretora da Sociedade Brasileira de Cefaleia (SBCE) e vice-coordenadora do Departamento Científico de Cefaleia da Academia Brasileira de Neurologia, diz que há mais de 200 tipos de dor de cabeça e a mais conhecida, não a mais comum, é a enxaqueca.



A SBCE alerta que a enxaqueca é uma doença incapacitante e que pode impactar na vida pessoal e profissional dos pacientes. Segundo a neurologista, as crises duram de quatro a 72 horas e quem tem dores de cabeça constantes (mais de dois episódios numa única semana) deve procurar um especialista. “A enxaqueca é como um incêndio, tem de apagar no início, porque depois ela se alastra. Mas o tratamento não é só tomar remédio, aliás, o uso abusivo pode torná-la crônica, o que chamamos de dor de cabeça crônica diária, já que o cérebro vai se acomodar. Com tanta automedicação, a enxaqueca é um terreno sem dono, todos tratam-na. O que é grave.”

Célia Roesler enfatiza que há medicamentos específicos. “Para os momentos de dor aguda, a associação de duas substâncias aborta a crise mais rápido e tem menos efeito rebote. É o triptano, que reverte a dilatação dos vasos e diminui a transmissão da dor, e o naproxeno, que diminui a inflamação.” A neurologista avisa que, além dos medicamentos, é importante praticar atividade física. “A atividade física complementa o tratamento. A água acalma e relaxa. Então, a hidroterapia é uma boa indicação. Trinta minutos de atividade aeróbica (no mínimo) aumentam a endorfina, nosso analgésico natural. Agora, são práticas preventivas, não curativas. E lembre-se de que, com a dor instalada, o esforço físico piora, portanto, repouso é a melhor saída.”

Por ser crônica, o diagnóstico, a prevenção e o tratamento são fundamentais para o controle da enxaqueca. De acordo com a SBCE, os fatores desencadeadores da crise mais comuns são odores fortes, barulhos, mudança no horário do sono, excesso ou falta de sono, alguns tipos de alimentos (vinho, queijo amarelo, chocolate), além dos fatores psicológicos, como estresse, cobrança no trabalho, nas mulheres, durante o período menstrual, por conta das oscilações hormonais, entre outros.

A terapia contribui para o estado de relaxamento muscular e mental do praticante, de modo a promover sensação de bem-estar, o que auxilia no alívio das dores localizadas na cabeça - Rogério Celso Ferreira, fisioterapeuta RELAXAR
O fisioterapeuta Rogério Celso Ferreira, diretor clínico da Fisior Hidroterapia, revela que a utilização da hidroterapia, especialidade da fisioterapia que usa a água para beneficiar as pessoas, tem levado a ótimos resultados no combate aos sintomas e às crises de enxaqueca. “A hidroterapia concilia exercícios de fisioterapia com a prática de atividades dentro da água. Isso permite ao paciente se exercitar sem exigir esforços musculares tão elevados quanto aqueles de uma atividade de musculação. A terapia contribui para o estado de relaxamento muscular e mental do praticante, de modo a promover sensação de bem-estar, o que auxilia no alívio das dores localizadas na cabeça.”

Rogério enfatiza que o ambiente aquático é diferente e tem diversas propriedades, “como a flutuação (empuxo). A pressão hidrostática é a pressão que a água exerce no corpo. Assim, podemos utilizá-la para oferecer sustentação para quem tem dificuldade de manter o equilíbrio. Essa pressão se manifesta em todas as direções e sentidos, inclusive, verticalmente, de baixo para cima. Importante para o tratamento de quem tem artrose no joelho, problema no quadril ou coluna. Ao fazer os exercícios dentro da água, forçam-se menos as articulações e experimenta-se um ambiente que favorece movimentos que não se conseguia fazer”.

De acordo com o fisioterapeuta, não há uma causa para a enxaqueca, mas diversos gatilhos. “Mas não se sabe o que a desencadeia, pois varia muito de pessoa para pessoa. Não se sabe a origem. Estabelecida, há alterações vasculares na cabeça e existe uma vasoconstrição (redução do calibre dos vasos cerebrais), seguida por dilatação (que é o oposto) e a liberação de algumas substâncias (como a serotonina), hormônios e substâncias inflamatórias, que causam a dor típica da enxaqueca. O tratamento, muitas vezes, é sintomático, com analgésico. E, ao iniciar, não há saída, somente com medicação até o processo acabar.”

Portanto, a hidroterapia entra como tratamento preventivo. “Por meio da terapia constante e de treinamento com o organismo, vamos induzir o corpo a um novo estado, que se afasta do processo desencadeante. A frequência e a intensidade passam a ser menores, porque trabalhamos em cima desses fatores. O resultado é mais nítido e característico nesses casos.” Rogério revela que muitos pacientes procuram a clínica não para tratar de enxaqueca, mas, ao fazer outras terapias aquáticas, percebiam ora que a dor de cabeça passava ora que diminuia de intensidade ora que aparecia com menos frequência. “A hidroterapia como especialidade da fisioterapia é recente, mas ela tem origem na Grécia Antiga, e Hipócrates (considerado o pai da medicina) estudou o efeito da água para o tratamento.”

SAÚDE PLENA

sábado, 9 de janeiro de 2016

Como "hackear" o corpo humano e aliviar as pequenas dores

Isso é, definitivamente, hackear o próprio corpo: intervir nos seus códigos internos para colocá-lo a nosso favor. Abaixo, segue uma lista de possíveis hacks:

Acupressão: método simples para aliviar dores com as próprias mãos. Por exemplo: para náuseas, pressionar com o polegar a parte inferior do pulso e com o dedo indicador e o médio a parte superior; para a ressaca, pressionar com o polegar na palma da mão abaixo do polegar e com o dedo indicador pressionar o ponto logo acima.

Para entender o que as pessoas falam com ruído e interferências: utilizar a orelha direita, já que esta é melhor para detectar padrões na fala; a esquerda é melhor para as notas musicais. (Pesquisa da Escola de Medicina da UCLA).

Ao receber uma injeção: tossir enquanto inserem a agulha. O ato de tossir inibe a condução da dor pela coluna vertebral. (Pesquisa publicada pelo British Medical Journal).

Para a sinusite leve: colocar a língua no centro do palato e pressionar com um dos dedos no meio das sobrancelhas produz um efeito descongestionante no osso vômer e nos seios paranasais. (Pesquisa da Universidade Estadual de Michigan).

Para o refluxo: deitar-se do lado esquerdo ao dormir, já que, assim, o estômago fica mais acima do esôfago e reduz, dessa forma, a acidez estomacal.

Para aliviar o “brain freeze” (ou cefaleia do sorvete): pressionar a parte superior do palato com a língua. O frio faz com que o cérebro compense a sensação, superaquecendo todo o corpo, de modo que isso diminuirá o efeito paradoxal.

History

terça-feira, 3 de novembro de 2015

Estudo liga bebidas adoçadas a maior risco de insuficiência cardíaca


Homens que bebem dois ou mais copos de refrigerante ou outras bebidas adoçadas por dia podem ter um maior risco de desenvolver insuficiência cardíaca, sugere um estudo sueco, feito sem separar os dados de açúcar e adoçantes artificiais.

Pesquisas anteriores já haviam ligado o alto consumo de bebidas adoçadas com vários fatores de risco para insuficiência cardíaca, incluindo pressão alta, açúcar elevado no sangue, ganho de peso, diabetes e obesidade, disse a pesquisadora que liderou o estudo, Susanna Larsson, do Instituto Karolinska, em Estocolmo.

Para confirmar a relação entre insuficiência cardíaca e bebidas adoçadas, Larsson e colegas acompanharam um grupo de cerca de 42.000 homens por uma média de quase 12 anos. Para avaliar os hábitos de consumo, erguntaram aos homens quantos refrigerantes ou sucos adoçados beberam por dia ou por semana.

Durante o curso do estudo, houve cerca de 3600 novos casos de insuficiência cardíaca.

Homens que tiveram mais de duas bebidas adoçadas por dia tinham um 23% maior risco de desenvolver insuficiência cardíaca durante o estudo do que os homens que não consomem essas bebidas.

O estudo não pode provar que bebidas adoçadas causam insuficiência cardíaca. Ainda assim, disse Larsen por e-mail à Reuters, "a mensagem é que as pessoas que bebem regularmente bebidas açucaradas devem considerar a redução de seu consumo."

Mulheres
Mesmo que o estudo tenha sido feito em homens, as mulheres também devem ser cuidadosas com o consumo de bebidas açucaradas, Larsson acrescentou: "Consumo de bebida adoçada tem sido associada com aumento da pressão sanguínea, maior concentração de insulina, ganho de peso, obesidade e diabetes do tipo 2 também em mulheres," observou Larsson.

Mais de 23 milhões de pessoas no mundo têm insuficiência cardíaca, doença que ocorre quando o coração não é forte o suficiente para bombear o sangue e o oxigênio necessários para o bom funcionamento do corpo. A prevalência da doença está aumentando pelo menos em parte ao consumo de refrigerantes e outras bebidas açucaradas, segundo Larsson.

No estudo, cerca de metade dos homens negaram beber refrigerantes ou sucos adoçados, enquanto pouco mais de um em cada seis disseram que consumiam menos de meio copo por dia. Apenas cerca de um em cada sete homens admitiu ter o hábito de tomar refrigerante duas vezes ao dia.

Homens que bebiam mais refrigerantes e bebidas açucaradas eram menos propensos a ter formação universitária, eram um pouco mais propensos a beber pelo menos três xícaras de café por dia, e geralmente consumiam menos porções de legumes.

Uma deficiência do estudo é a sua dependência das pessoas envolvidas para recordar com precisão e relatar seus hábitos de consumo, os autores reconhecem. Os pesquisadores também não dispunham de dados para distinguir entre o açúcar e adoçantes artificiais.

Também é possível que outros fatores não mensurados no estudo, como a atividade física ou hábitos alimentares, podem ter influenciado se os homens desenvolveram insuficiência cardíaca, escreveu Miguel Martinez-Gonzalez e Miguel Ruiz-Canela, da Universidade de Navarra, na Espanha, em um editorial que acompanha a pesquisa.

Mesmo assim, os resultados se somam a um crescente corpo de evidências que ligam refrigerantes e outras bebidas adoçadas a doenças cardíacas, escreveram os autores.

"Bebidas adoçadas levarm ao ganho de peso e obesidade, e isso leva a diabetes e insuficiência cardíaca", Martinez-Gonzalez disse à Reuters por e-mail. "A mensagem é: beba água em vez de bebidas açucaradas."

terça-feira, 27 de outubro de 2015

OMS, VEGETARIANOS E CARNE VERMELHA


Salsicha e bacon, entre outros embutidos, foram classificados como produtos carcinogênicos pela OMS (Foto: Joe Raedle/Getty Images North America/AFP)

"Quantas crises alimentares nós devemos enfrentar antes que as pessoas se deem conta de que as proteínas animais não são boas para nós", reagiu Jasmijn de Boo, presidente da Vegan Society, organização criada em 1944 com sede na Grã-Bretanha.

"A salmonela nos anos 1980, a 'vaca louca' nos anos 1990, a febre aftosa nos anos 2000, a carne de cavalo há dois anos e agora isso: não adianta passar de uma carne para outra. É mais saudável e melhor para o meio ambiente e para os animais ser vegano", disse à AFP o líder da associação que prega a exclusão total de todos os produtos de origem animal da alimentação, mesmo o leite e o queijo.

Mais do que reduzir nosso consumo (de produtos à base de carne), nós devemos retirá-los completamente da nossa dieta. Existem muitas alternativas", defendeu.

Em nome da União Europeia dos Vegetarianos, que aceitam os produtos à base de leite, Renato Pichler declarou estar "contente que a OMS tenha aceito a conexão entre o consumo de carnes e certos cânceres".

Para Brigitte Gothière, pota-voz da organização L214, que também prega a ausência total de produtos de origem animal da alimentação em nome do respeito aos seres vivos, "o estudo da OMS é mais um argumento em favor de uma alimentação que exclui os produtos à base de carne".

"As dietas veganas são normalmente criticadas pelos médicos, mas este estudo mostra que ser vegano também nos protege de algumas doenças", alfinetou.

Diante da pecuária extensiva, "a questão da ética face aos animais se impõe cada vez mais, talvez até mais do que a questão da saúde", acrescentou Brigitte Gothière.

A Agência Internacional para a Pesquisa sobre o Câncer (IARC), uma agência da Organização Mundial da Saúde (OMS), colocou o consumo excessivo de carnes processadas, como embutidos ou frios, no Grupo 1 de risco de levar ao desenvolvimento de câncer, principalmente o colorretal.

Entre os cânceres mais frequentemente associados à carne, aparecem o câncer colorretal e em quantidade menor, os cânceres de próstata e do pâncreas, segundo o estudo.



As carnes processadas foram colocadas na lista do grupo 1 de carcinogênicos, que já inclui tabaco, amianto e fumaça de diesel. Porém, segundo os especialistas, isso não significa que esse produto é tão perigoso quanto o cigarro, por exemplo.

A carne processada foi incluída nessa categoria, pois existem evidências claras de sua relação com o câncer. Porém o aumento de risco do câncer ocasionado pelo tabaco é muito mais significativo.

“Ao colocar a carne processada no grupo de carcinogênicos, ela fica no mesmo patamar que o fumo, por exemplo, em que a recomendação é não consumir”, diz o cirurgião oncologista Samuel Aguiar Junior, diretor do Departamento de Tumores Colorretais do A.C.Camargo Cancer Center.

“Porém, o consumo esporádico e em pequenas quantidades de carne processada não leva a um aumento do risco de câncer comparável ao tabaco”, afirma.

Segundo o Cancer Research UK, enquanto 86% dos casos de câncer de pulmão estão ligados ao uso de tabaco, 21% dos casos de câncer de intestino estão ligados ao consumo de carne processada e vermelha.


A classificação não significa que as pessoas devem parar de comer carne. Aguiar Junior observa que a carne vermelha fresca, não processada, é um componente importante da alimentação e o consumo adequado traz benefícios para a saúde.

Segundo o oncologista, uma quantidade considerada segura é 70 gramas por dia para homens e 55 gramas por dia para mulheres.

Para o médico Gilberto Lopes, oncologista clínico do Grupo Oncoclínicas do Brasil e membro da Sociedade de Oncologia Clínica Americana (Asco), a dieta do brasileiro é caracterizada por ser rica em carne vermelha: o ideal seria reduzir o consumo a no máximo três vezes por semana.

Já em relação à carne processada, não se sabe qual seria uma quantidade segura. O que a revisão de estudos provida pelo IARC concluiu foi que o consumo de uma porção de 50 gramas por dia de carne processada aumenta o risco de câncer colorretal em 18%.

Para se ter uma ideia, uma única salsicha pesa 50 gramas, três fatias finas de presunto pesam 40 gramas, sete fatias de salame pesam 40 gramas e uma linguiça pode chegar a 100 gramas.


Segundo a classificação da IARC, carne vermelha são todos os tipos de carne de mamíferos como vaca, porco, cordeiro, carneiro, cavalo e cabra.

Já as carnes processadas, também conhecidas como embutidos, são aquelas com adição de sal ou outros produtos para realçar o sabor e aumentar o tempo de conservação, ou que tenham sido fermentadas ou defumadas.

Esses produtos geralmente contêm carne de vaca ou de porco, mas também incluem os produzidos com carnes de aves e outros produtos relacionados à carne, como sangue. Entre eles estão bacon, toucinho, presunto, salsicha, linguiça e salame.


Não. Segundo o oncologista Aguiar Junior, a carne vermelha não é o único vilão do câncer de intestino.

Para se prevenir a doença, além de moderar o consumo de carnes vermelhas e processadas, é indicado adotar uma dieta mais rica em verduras, frutas e cereais, além de aumentar as atividades físicas.

G1

sábado, 17 de outubro de 2015

Holandês passa um mês sem álcool e açúcar e mostra o que acontece com corpo

Depois de uma semana sem açúcar refinado, Sacha Harland sentia-se exausto (Foto: LifeHunters)

Cansaço, mau humor e até uma espécie de crise de abstinência. É o que sentiu Sacha Harland, holandês de 22 anos, ao começar seu experimento.

Ele resolveu passar um mês sem consumir produtos que tenham adição de açúcar, álcool e "junk food", o que se mostrou, pelo menos nos primeiros dias, um grande desafio.

É o que ele conta na primeira parte de "Guy gives up added sugar and alcohol for 1 month" ("Um cara abre mão de açúcar e álcool por 1 mês"), um documentário da produtora holandesa LifeHunters.

Em sua primeira semana à base de sucos naturais, frutas, verduras e outros alimentos não processados, Harland sente fome o tempo inteiro e lhe falta energia.

Além disso, morre de inveja de um amigo que come uma pizza enquanto ele se conforma com uma salada.

No cinema, teve de deixar de lado a pipoca doce e o refrigerante, e a única opção que encontra sem açúcar é uma garrafa de água.

A carência de alternativas foi um problema que Sacha enfrentou com frequência. Mesmo produtos que não são considerados doces, como batatas fritas, molho de tomate industrializado e sopas enlatadas têm sacarose.

"O mais difícil foi a primeira semana e meia. Tinha que saber o que podia ou não comer e foi complicado. Mas depois fui me acostumando (a ler as etiquetas dos produtos)", diz Harland à BBC Mundo.

Harland só podia tomar sucos naturais, já que os industrializados têm muita adição de açúcar (Foto: LifeHunters)

'Uma agradável surpresa'

O documentário mostra, no entanto, que após 25 dias de dieta especial, ele começou a sentir os benefícios da nova rotina.

"A última semana está prestes a terminar, e me levanto com mais facilidade e tenho mais energia", diz ele para a câmera.

"Foi uma surpresa agradável, que não pensava que sentiria tão diferente fisicamente."

Uma médica especializada em esportes confirma que esta sensação é fruto de uma mudança real em seu corpo.

Exames mostraram que Harland perdeu 4 kg, teve uma redução de 8% em seu colesterol e sua pressão sanguínea baixou desde que iniciou o processo.

"Já que é cada vez mais difícil comer alimentos saudáveis, queríamos saber como se sente uma pessoa que renuncia ao açúcar, ao álcool e aditivos alimentares por um mês e como isso afeta seu corpo e sua condição física", diz Erik Hensel, diretor da LifeHunters.

O filme já foi visto mais de 4 milhões de vezes no YouTube, tanto quanto o projeto anterior da produtora, em que ela apresentava - sem que as pessoas soubessem - produtos da rede de lanchonete McDonald's como comida "ecológica" em uma feira gastronômica.

segunda-feira, 5 de outubro de 2015

Remédio para asma pode prejudicar crescimento em crianças, diz estudo

Crianças pequenas que tomam remédio para asma antes mesmo de completarem dois anos de idade podem ter seu crescimento prejudicado, conforme sugere um estudo preliminar realizado com 12 mil crianças e apresentado na Conferência da Sociedade Europeia de Endocrinologia Pediátrica.

Segundo a pesquisa, liderada por Antti Saari, da University of Eastern Finland, as crianças que fizeram uso dos corticoides inalados (ICS) para o tratamento da asma tiveram prejuízos no crescimento.

Estudos anteriores já haviam relacionado o uso desse tipo de remédio com limitações no crescimento.

Especialistas reforçam que essa pesquisa serve para ressaltar a importância de se ter cuidado redobrado ao receitar corticoides para crianças muito pequenas.

A organização "Asthma UK", porém, afirmou que corticoides inalados têm um papel crucial no controle dos sintomas da asma na infância – especialmente para diminuir o número de vezes que as crianças precisam ser levadas ao hospital por causa de crises.

A asma é uma doença crônica que afeta cerca de 20 milhões de pessoas no Brasil, segundo dados oficiais. Oito pacientes morrem por dia em decorrência do problema.

O principal tratamento para a asma é feito com corticoides inalados que podem ser encontrados em medicamentos com inaladores – mas eles também são conhecidos por causar efeitos colaterais em algumas pessoas.

A recomendação dos médicos é que crianças que costumam tomar corticoides inalados para o tratamento da asma devem ter um acompanhamento rígido e frequente de peso e altura todo ano para observar qualquer sinal de crescimento reduzido.

Pesquisa
Como líder do estudo, Saari explicou que sua equipe analisou as informações sobre altura dos pais das crianças, assim como os dados do peso delas e de quanto de medicamento para asma elas tomavam para calcular o crescimento e a altura esperados.

Ele descobriu uma relação entre uso de corticoides inalados e crescimento que pode significar 3 cm de perda de altura para essa criança quando ela se tornar adulta. "É importante que os médicos pensem duas vezes antes de receitar esse tipo de medicamento a crianças dessa idade (abaixo de dois anos)", explicou.

Jonathan Grigg, médico honorário da British Lung Foundation e professor de medicina respiratória pediátrica na Universidade Queen Mary em Londres, disse que tratar crianças muito novas com sintomas de asma.

"Não conseguimos descobrir o tratamento ideal para crianças tão novas com esse problema. Não é muito claro quais delas precisam e quais não precisam de tratamento com corticoide. Muitas crescem sem desenvolver asma e não precisam de tratamento no futuro."

Segundo ele, um novo e maior estudo com grupos de crianças de diferentes idades precisa ser feito para descobrir mais detalhes sobre isso.

Já a diretora de políticas e pesquisas na organização Asthma UK disse que corticoides inalados são fundamentais para reduzir e controlar os sintomas da asma e o impacto deles na altura é "relativamente menor".

"Nenhum pai deve parar de dar esses medicamentos para seus filhos, porque uma pequena redução no crescimento é um preço muito baixo a pagar por remédios que podem salvar a vida de suas crianças", acrescentou.

terça-feira, 18 de agosto de 2015

Quais exames médicos valem a pena?

Médico e apresentador da BBC Michael Mosley se submeteu a uma série de exames (Foto: Fleur Bone/BBC)

O número de exames médicos a que uma pessoa pode se submeter parece ter se multiplicado nos últimos anos. Os preços destes exames, para quem faz pela rede privada de saúde, são altos e, no caso de quem usa a rede pública, a espera pode ser longa.

Com isso, surge a pergunta: quais exames que realmente vale a pena fazer? O médico e apresentador da BBC Michael Mosley avaliou este questionamento se submetendo a uma série destes exames:

"Comecei com exames para detectar problemas cardíacos, pois é a principal causa de morte prematura na Grã-Bretanha. Os exames básicos são grátis no NHS (serviço público de saúde britânico) e relativamente simples.

Primeiro, fiz um exame de sangue para medir coisas como colesterol. Então fui à minha médica clínica geral, Sally Jenkins, que mediu minha altura, peso e pressão arterial.

Ela colocou todos estes dados em um calculador online chamado qrisk e a resposta que obteve foi de que tenho 10% de risco de ter um ataque cardíaco ou derrame nos próximos dez anos.

Isto não me pareceu ótimo, mas é um pouco melhor do que a média para alguém da minha idade. De qualquer forma, segundo Sally, os regulamentos para procedimentos neste caso sugerem que eu deveria fazer um tratamento com estatinas.

Tenho uma atitude ambivalente em relação às estatinas. Por um lado elas podem reduzir o risco de morte se você tem doença cardíaca, mas os benefícios para os que aparentemente são saudáveis são menos claros.

As estatinas também têm efeitos colaterais, como o aumento do risco de diabetes tipo 2.

Pagando pelo exame
Sem ter certeza do que fazer, me submeti a outro exame - uma tomografia computadorizada cardíaca. Em uma clínica particular da Grã-Bretanha, ela pode custar entre 600 e mil libras (entre R$ 3,2 mil e R$ 5,4 mil) e envolve também uma pequena dose de radiação.

No exame, o paciente se deita em uma máquina e recebe uma injeção de contraste e, em seguida, uma série de raios-X de dose mais baixa. A máquina mostra suas artérias coronárias detalhadamente e o médico pode ver se há algum bloqueio parcial.

Após passar por esta máquina, o cardiologista Duncan Dymon examinou meus exames. Ele começou falando sobre uma sombra agourenta em uma das minhas principais artérias coronárias, a descendente esquerda.

"A razão de estar escura é devido a um depósito de placa macia, rica em colesterol na parede da artéria", disse o médico.

"É grave?", perguntei ansioso.
Michael Mosley se submeteu a exames cardíacos, para detectar câncer, entre outros (Foto: Fleur Bone/BBC)

"Sim. Não quero parecer muito dramático, mas estas são as perigosas devido à propensão e imprevisibilidade para causar ataques cardíacos em alguém que está totalmente bem, não tem sintomas, vive uma vida normal. Você sai de manhã para trabalhar e não volta para casa", afirmou.

Por esta razão, elas são conhecidas entre os médicos como "fazedoras de viúvas".

O médico não conseguiu me dizer quais eram as chances deste episódio acontecer, "se fizéssemos isto, seria medicina (ao estilo da série de ficção científica) Star Trek", mas ele me aconselhou a tomar a estatina "pois as placas moles (tratadas) com estatinas, metaforicamente falando, têm o colesterol chupado para fora delas".

Entrei no consultório bem alegre e saí de lá com a expressão "fazedora de viúva" no meu cérebro.

E este é o problema com alguns destes exames particulares - eles podem não dar mais detalhes sobre o risco de problema cardíaco que um simples exame da rede pública, e podem te deixar muito mais preocupado.

Câncer
O câncer é a doença que apresenta o segundo maior risco de morte para as pessoas, mas os exames para detectar a doença geram polêmica. Muitos críticos afirmam que estes exames podem prejudicar mais do que ajudar.

Um exemplo é o exame para detectar câncer de mama, que está disponível na rede pública de saúde da Grã-Bretanha para todas as mulheres entre 50 e 70 anos de idade - e este limite de idade deve aumentar para 73 em 2016.

Um relatório feito no país, chamado de Marmot Report, analisou as provas de eficácia deste programa e concluiu que o exame salvou 1,4 mil vidas por ano.

O Nordic Cochrane Centre, em Copenhague, na Dinamarca, é um centro respeitado de colaboração internacional entre cientistas e instituições. E discorda do relatório.

Segundo o centro dinamarquês, pelo fato de termos melhores tratamentos para câncer de mama, a defesa da mamografia ficou prejudicada e, estudos recentes "mostram pouca ou nenhuma redução da incidência de cânceres avançados com o exame".

Iona Heath, ex-presidente do Royal College de Clínicos Gerais, já critica o exame há muito tempo e diz que não escolheria fazê-lo.

"Minha decisão pessoal é esperar até detectar um caroço no seio e então conseguir o melhor tratamento que tiver", afirmou.

Robin Wilson, presidente da Diretoria de Aconselhamento sobre Exames de Mamas da Grã-Bretanha, acredita que o exame salva vidas, mas reconhece que há riscos.

"As mulheres precisam saber o que são estes riscos e como eles se equilibram com os benefícios para fazer uma escolha bem informada - o que nós na profissão de médicos precisamos fazer é melhorar na descoberta de qual (caso de) câncer não precisamos tratar", disse.

Próstata
O câncer de próstata mata 10 mil homens a cada ano na Grã-Bretanha, mas seu exame é ainda mais polêmico que a mamografia.

E isto se deve à já conhecida falta de precisão do PSA (o exame antígeno prostático específico).

Assim como no caso do câncer de mama, o problema é que você não sabe qual tumor detectado vai crescer de forma agressiva e qual não vai.

Se um tumor é detectado, existem várias opções, desde cirurgia até radioterapia (os efeitos colaterais incluem incontinência e impotência). Ou simplesmente esperar, observando de forma mais atenta a saúde do paciente.

O médico aguarda para saber se o tumor é agressivo e cresce rapidamente ou se é relativamente benigno.

"Houve um estudo que envolveu homens com todos os tipos de câncer de próstata e, de forma aleatória, escolheu uns para passar por uma cirurgia radical enquanto outros não fizeram nada e, depois de dez anos, não havia nenhuma diferença real na sobrevivência geral", disse Vincent Gnanapragasam, que dirige um programa de monitoramento no hospital Addenbrokes, em Cambridge.

"Mais importante, os homens com baixo risco de câncer não apresentaram nenhuma prova de benefício depois do tratamento radical."

Em uma coisa todos os especialistas que consultei concordaram: vale a pena fazer um exame para detectar câncer no intestino. E os médicos disseram que até eles passariam por este exame.

Não é o exame mais glamuroso, mas este pode salvar sua vida.

domingo, 12 de julho de 2015

Sexo oral aumenta chaces de câncer de boca

O perfil dos pacientes com câncer de boca mudou nos últimos anos. A doença, que antes tinha uma incidência maior entre homens mais velhos, principalmente por causa do consumo de álcool e cigarro, agora está acometendo homens mais jovens, com idade entre 30 e 44 anos. Entre as mulheres, a doença também tem aumentado, especialmente nessa faixa etária.

O motivo, segundo especialistas, é a maior exposição ao sexo oral sem proteção. O vírus HPV, transmitido por contato sexual, aumenta o risco da doença.

A conclusão foi de uma revisão de estudos coordenada pela médica epidemiologista Maria Paula Curado, do A.C.Camargo Cancer Center. A revisão incluiu dados de estudos feitos em vários países.

Ela explica que, embora a população mundial esteja envelhecendo – e o câncer de boca seja uma doença associada a pessoas com mais de 50 anos – existe uma tendência de aumento da doença em pessoas mais jovens.

A incidência entre homens de 30 a 44 anos aumentou de 4 para 10 casos a cada 100 mil na comparação entre as décadas de 1991 a 2000 e de 2001 a 2010, segundo a revisão. Entre as mulheres de 30 a 44 anos, a incidência subiu de 2 para 5 casos a cada 100 mil no mesmo período. Maria Paula apresentou o trabalho no Congresso Mundial da Academia Internacional de Câncer Oral (IAOO), em São Paulo, nesta quinta-feira (9).

Sexo oral desprotegido

Segundo a pesquisadora, muitos casos de câncer de boca têm três causas possíveis de se prevenir: consumo de álcool, cigarro e infecção pelo vírus HPV. “A maioria dos tumores de boca estão relacionados a hábitos de vida de risco. A estratégia de prevenção é modificar isso.”

Maria Paula observa que, muitas vezes, as pessoas esquecem que é preciso se proteger também no sexo oral usando preservativo, seja na versão masculina ou feminina. “O sexo oral, se é feito sem cuidado, pode resultar em uma infecção por HPV, que aumenta os riscos do câncer”, diz.

Câncer perigoso
O câncer de boca pode ser perigoso e, dependendo da fase em que é diagnosticado, a chance de sobreviver pode ser de 50%. Os primeiros sintomas muitas vezes passam despercebidos, pois se parecem com uma afta. “Por isso é muito importante fazer exame clínico na cavidade oral. Um clínico geral ou um dentista podem identificar esses sinais ao examinarem a boca.”

Segundo estimativa do Instituto Nacional de Câncer (Inca), eram esperados 4.010 casos de câncer na cavidade oral entre mulheres em 2014 e 11.280 casos entre homens.

terça-feira, 23 de junho de 2015

Infância domada a PÍLULAS

A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que 20% das crianças e adolescentes do mundo sofrem de transtornos comportamentais ou mentais. Por isso, há algum tempo a ciência investiga de que modo estes males estão sendo tratados. As conclusões revelam aos especialistas um panorama extremamente preocupante. Em todo o planeta, observa-se um número assustador de meninos e meninas sendo medicados com remédios tarja preta, que afetam o sistema nervoso central e têm a venda regulada. Eles vivem uma infância tratada a pílulas.

Embora se trate de um fenômeno entendido pelos especialistas como algo real e inquestionável, a super medicalização das crianças ainda é difícil de ser mensurada com bastante precisão. Há dados às vezes mais contundentes e outros apenas indicativos. No Brasil, uma ideia da dimensão do problema pode ser vista peto aumento na venda de ritaiina, medicação usada para o tratamento do Transtorno de Déficit de Atenção e de Hiperatividade (TDHA). Segundo dados do Sistema Nacional de Gerenciamento de Produtos Controlados, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, em outubro de 2009 foram vendidas 58,7 mil caixas do medicamento. Três anos depois, no mesmo mês, as vendas somaram 108,6 mil caixas. É verdade que a droga é usada também por adultos portadores do transtorno, mas sabe-se que a maior parte dos usuários é de crianças e adolescentes.

Outro recorte - resultado de uma pesquisa feita pela Universidade Potiguar, no Rio Grande do Norte - ajuda a entender a gravidade do problema por aqui. Estagiários da instituição que atendem turmas de alunos de ensino básico observaram que vários estudantes tomavam psicofármacos. Especialistas do Serviço de Psicologia resolveram investigar o que estava acontecendo. "Recebemos crianças e adolescentes com prescrições de Ritalina (psicoestimulante), Rivotril (usado como ansiolítico) e remédios para dormir", afirma Vania Calado, doutoranda em psicologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte e coordenadora do Serviço. Nada menos do que 36% dos alunos atendidos têm menos de 11 anos.

A questão em torno do abuso na prescrição de remédios psiquiátricos a crianças tornou-se uma das principais preocupações de psiquiatras, pediatras e psicólogos. Tanto que obrigou entidades da importância da Associação Americana de Pediatria, por exemplo, a se posicionar publicamente alertando para o problema. A discussão principal é como evitar o hiper e o sub diagnóstico. No primeiro caso, um jovem que passa, por exemplo, por uma tristeza normal, dessas que todo ser humano experimenta, pode ser equivocadamente diagnosticado como depressivo e passar a tomar remédio sem a menor necessidade. Na segunda, um garoto realmente portador do transtorno de déficit de atenção, que lhe rouba a capacidade de seguir o ritmo dos colegas na escola, pode acabar avaliado apenas como desatento ou desinteressado. E passar anos e anos sem receber a ajuda que precisa.

A habilidade de diferenciar a normalidade da patologia é o maior desafio para os especialistas. "Todos passamos por situações de tristeza e de desatenção em algum grau, mas só algumas pessoas são portadoras de depressão ou de TDAH, por exemplo", afirma o psiquiatra Paulo Mattos, coordenador do Grupo de Estudos do Déficit de Atenção do Instituto de Psiquiatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro. No caso das crianças, a dificuldade em reconhecer o que está havendo muitas vezes pode ser maior do que a experimentada em relação aos adultos. "O diagnóstico de um transtorno infantil pode criar uma zona de conforto para a aceitação dos problemas", afirma o psiquiatra Moises Groisman, autor do livro Terapia Familiar Breve na Infância e na Adolescência. "Várias vezes demonstro que o comportamento considerado anormal não é um transtorno. É mimo", diz.

Porém, muitas vezes a avaliação é feita por profissionais não qualificados. O resultado é desastroso. "Há jovens que deveriam tomar os remédios e não o fazem e outros sendo medicados sem necessidade", diz o psiquiatra Mattos. No documento "Manifesto por uma melhor saúde mental", institutos de psiquiatria e psicologia da Inglaterra revelam o que pode acontecer, por exemplo, quando a criança precisa de ajuda e não a recebe. Eles estimam que até 2020 cem mil crianças e adolescentes ingleses sejam hospitalizados anualmente por auto-mutilação por não receberem tratamento para o transtorno. Na Nova Zelândia, um levantamento feito pelo Ministério da Saúde mostrou que vinte mil adolescentes daquele país consumiram antide-pressivos em 2013.

A carioca Solange Brito, 52 anos, passou por quatro especialistas até que seu filho, Rafael, 12 anos, recebesse o diagnóstico de transtorno de humor e TDAH. Hoje medicado, leva uma vida normal. "Agora, se concentra. Antes, isso era impossível", atesta a mãe. Já Denise de Oliveira, 48 anos, resistiu em dar medicação a seu filho Diego, 13 anos, portador de um transtorno do desenvolvimento. Mas cedeu. "Medicação não é fórmula mágica, mas ajuda", diz. Experiência diferente viveu a contadora baiana Rosana Paulo, 50 anos, cujo filho mais velho, Rafael, chorava muito e chamava atenção da professora pelos problemas motores que atrapalhavam a escrita. Após ouvir alguns médicos, parou de trabalhar por dois meses, tirou o menino da escola e passou a dedicar-se prioritariamente a ele. Descobriu que ele era canhoto. Por isso só produzia garranchos ao tentar escrever com a mão direita. Hoje, aos 18 anos, Rafael se prepara para o vestibular.

segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Por que a alergia é tão comum hoje em dia?



Do pólen ao látex, passando por poeira ou animais domésticos, quatro em cada dez pessoas são hoje consideradas alérgicas a algo.

Mas se a alergia não acometia as gerações de nossos avós, qual é a causa da doença que acomete centenas de milhares de pessoas todos os anos?

Muitas teorias surgiram com o passar do tempo, mas agora cientistas acham que talvez tenham descoberto a origem das alergias.

Cada um de nós é coberto da cabeça aos pés por bactérias. Pesquisadores acreditam que esses micro-organismos são a chave para entender por que estamos nos tornando mais alérgicos.

As bactérias que revestem nossa pele, cobrem nossa boca e se multiplicam em nossas entranhas não só excedem em número as nossas próprias células (a proporção é de 10 bactérias para cada célula), como também têm papel fundamental no aprimoramento dos nossos sistemas imunológicos. Mudanças de estilo de vida estão influenciando esses organismos e, por consequência, as alergias.

Para comprovar como essa teoria se aplica no mundo real, a reportagem da BBC usou um microscópio para analisar as vidas de duas famílias de alérgicos.

Em uma das famílias, Joe, de 8 anos, sofre de asma severa, rinite alérgica, dermatite, além de alergia a nozes, a animais domésticos e a ácaros e poeira.

Em outra família, a lista de alergias que acomete Morgan parece infindável. Junto com um eczema severo e rinite alérgica, ele tem aversão a laticínios, nozes, soja, kiwi, abacate, banana, látex, gatos, cachorros e cavalos.

As duas famílias concordaram em fornecer amostras bacterianas de sua pele, vísceras e até mesmo de suas casas na esperança de que isso possa oferecer pistas sobre a origem de seus problemas.

Os resultados são surpreendentes. Como muitos de nós no Ocidente, as famílias tinham poucos tipos de bactéria vivendo dentro e sobre elas quando comparadas com indivíduos de tribos tradicionais em partes do mundo em desenvolvimento.

Pesquisadores descobriram, por exemplo, que uma comunidade de caçadores tinha não só uma alta diversidade de bactérias, mas apenas um em cada 1,5 mil indivíduos dessa tribo sofria de alergia. No Reino Unido, por outro lado, a proporção é de uma para cada três pessoas.

O estilo de vida no Ocidente parece estar mudando nossas bactérias e nossa suscetibilidade a alergias. Mas de quem é a culpa?

É provável que existam vários culpados, mas o principal fator, segundo os especialistas, pode ser a maneira como estamos criando nossos filhos.

Atualmente, um quarto dos bebês no Reino Unido nasce de cesarianas. Segundo um estudo conduzido na Noruega, no entanto, bebês nascidos por esse método têm 52% mais chance de sofrer asma do que aqueles nascidos de parto normal.

Ameaça dos antibióticos

Cientistas acreditam que a bactéria a que os bebês estão expostos no canal vaginal ajuda de certa forma a protegê-los de alergias, e o crescimento das cesáreas podem estar elevando o número de crianças alérgicas.

Mas o "combate" às suas próprias bactérias parece continuar à medida que essas crianças crescem. Estima-se que o leite materno contenha cerca de 900 espécies de bactérias, o que explica possivelmente por que bebês alimentados por essa fonte energética são menos alérgicos.

Uma das maiores ameaças às bactérias protetoras de alergias vem, contudo, dos antibióticos. A priori, esses medicamentos têm como objetivo nos proteger, mas frequentemente reduzem a quantidade desses seres em nosso organismo.

Um estudo recente mostrou, por exemplo, que o uso de antibióticos na primeira fase da vida pode aumentar o risco de desenvolvimento de dermatites em até 40%.

Não há dúvida de que as crianças hoje estão sendo expostas a menos bactérias do que no passado, e sofrendo, assim, mais alergias.

Mas não é apenas a forma como as crianças nascem que impacta o número de bactérias presentes em seu corpo. O estilo de vida que elas adotam à medida que crescem também tem papel fundamental no desenvolvimento de alergias, de acordo pesquisadores.
'Velhos amigos'

Ao acompanhar as duas famílias por quase 24 horas, a reportagem da BBC descobriu que elas passavam, em média, 91% de seu tempo entre quatro paredes (casa, escola, trabalho) – uma tendência bastante comum no Reino Unido.

Na medida em que nossas vidas estão se tornando cada vez mais sedentárias, perdemos uma vasta gama de bactérias que habitam em nossos jardins e pairam no ar.

Assim, a maneira mais fácil de reduzir as chances de desenvolver alergias é sair de casa.

Desde passear com o cachorro a caminhar a pé até a escola, pesquisas indicam que um pouco de ar puro traz benefícios incontestáveis para a saúde.

Outro estudo constatou que quanto maior o contato com plantas e flores, maior é a quantidade de bactérias na pele, o que também reduz a propensão às alergias.

Segundo o professor Graham Rook, da Universidade College London, essas bactérias são nosso "velhos amigos" e exercem papel fundamental para nossa saúde.

"De certa forma, essa percepção de que os humanos são, de fato, ecossistemas e que dependemos tanto desses micro-organismos é provavelmente o mais importante avanço da medicina nos últimos cem anos", diz.

BBC